domingo, 28 de abril de 2013

"Abismo Prateado": O Silêncio Estridente do Abandono


"Abismo Prateado" trata do som estridente e do silêncio profundo da rejeição.Mostra que o efeito do fim de uma relação sobre o outro tem a força de uma onda despencando na impávida e imóvel areia. O filme de KarimAïnouz assim é uma ópera ensurdecedora que serve de introdução à canção de Chico Buarque inspiradora da obra cinematográfica.
No centro do drama, Violeta canta uma ária dissonante. É uma soprano sem palco e plateia. A queda da personagem central é visceral (real e metafórica). A mulher desaba diante do abandono covarde e mudo do Amor e segue de perto a letra de “Olho nos olhos”. Quase enlouquece.
O abismo desenhando por Aïnouz parece não ter chão. Longe de se deixar levar pela tentação da interpretação literal da letra de Chico, o roteiro aprofunda a dor e oferece uma cicatrização natural e surpreendente como a simplicidade da vida.  Convoca outros seres à beira do abismo para iluminar o caminho de volta.
Este pequeno filme é grande pela segurança que o diretor conduz cenas com poucos diálogos e as une; e o desempenho de Alessandra Negrini. Uma história sem explicações fáceis, justificativas lógicas e psicologismo de folhetim exigiu tanto de Aïnouz quanto da atriz um esforço extra para criar uma obra digna da original.
No fim da (minha) sessão, parte do publico reclama da falta de um fechamento dramático, de um (re)encontro salvador e de uma definição mais clara dos destinos. Reclamam como se não soubessem que, na vida Real e talvez na letra de Chico, o abandono e a rejeição deixam marcas que nem uma melodia (e muito menos um filme) é capaz de curar.

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