terça-feira, 8 de junho de 2010

O 2o Capítulo de Coco Chanel

O inicio do filme Coco Chanel & Igor Stravinsky apresenta A Sagração da Primavera embalando os movimentos de um corpo de balé russo. Duas obras moderníssimas para 1913. O publico não perdoa. Vaias e xingamentos.

O diretor Jan Kounen deveria estar sentado naquela platéia do teatro Champs Élysées de Paris no início do século passado. O holandês fez um filme conservador, escuro e sem alma. Um olhar mais carinhoso de uma amiga que assistia o longa ao meu lado é preciso na classificação: É uma novela das 21 horas, da Globo, disse ela.

A novela de Kounen é uma produção caprichada, feita para o público digerir a pipoca sem engasgar. Na tela, o romance entre a estilista (Anna Mouglalis) e o compositor (Mads Mikkelsen) se limita a retratar o relacionamento entre uma francesa rica, forte, livre, moderna, elegante, sofisticada e decidida e um homem sensível, exilado da revolução Rússia e perdido dentro de uma numerosa e religiosa família.

Um pouco mais de ousadia não faria mal à história não oficial. A direção foi reta e, aparentemente, segue de perto as linhas do livro de Chris Greenhalgh. A reconstrução da biografia do affair - que de concreto tem um telegrama do compositor e um objeto religioso da família Stravinsky que Coco conservou ao seu lado até os últimos dias de vida - está próxima de um folhetim e longe de um filme de arte.

O talento do casal é detalhe cênico na narrativa. Há uma tentativa rala de criar um paralelo entre o estilo Coco de administrar seus negócios e de inventar formas sofisticadas e cheiros sensuais e o do personagem Strasvinsk, um compositor vigoroso, criativo e dependente (artisticamente) da esposa. A fragilidade é (mal) disfarçada com uma fotografia pesada e interpretações convincentes (e um tanto mecânicas), em especial da mulher traída (Yelena Morozova).

Tal qual uma boa novela, Coco Chanel & Igor Stravinsky é perfeito para assistir depois do Jornal Nacional.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Sorriso Amarelo e Cor-de-Rosa

O que seria de Woody Allen sem o humor. Um ótimo cineasta cortante e difícil. O sorriso sopra sobre as suas histórias e cria uma leveza que desvia o olhar. O público pode embarcar e se divertir. Pode também rir e se assustar com os pequenos (e, as vezes, profundos) cortes.

Tudo Pode dar Certo é também um longo sopro. É fácil de acompanhar como um bom papo num café de NY, durante a primavera. Um encontro filosófico na calçada entre velhos amigos para qual você é convidado a participar. Quem puxa a conversa é o físico Boris (Larry David), suicida em potencial que abandona a mulher por causa da perfeição da companheira.

Regido pela lei do clichê, o roteiro de Allen leva o narrador (solitário) a ser atraído por uma partícula loura e burra inversamente proporcional à genialidade e ao pessimismo do quase prêmio Nobel, dezenas de anos mais velho que a jovem caipira em questão chamada Melodie (Evan Rachel Wood). O clichê é tão consciente que é tema de debate entre os dois extremos de Q.I.

Os diálogos da dupla, do físico com o público, da mãe da jovem e dos amigos são espertos e engraçadinhos. Frases e situações tiradas da velha gaveta de Allen. Tudo redondinho e com ritmo até um final perfeito como um baile de pessoas felizes.

E onde estariam os tais cortes? A navalha mais afiada está na bolsa cor-de-rosa da mãe de Melodie, Marietta (Patricia Davies Clarkson). O ódio em forma de preconceito e inveja é um personagem que muda na forma (pesada e cafona para “in” e revolucionária) e só piora no conteúdo. É o demônio que se transforma em deus (ou o contrário) e continua praticando o mal.

Tudo Pode dar Certo não fere (quem não quer se ferir) e ainda faz rir.