domingo, 11 de setembro de 2011

A Árvore da Vida Fugaz de Lars Von Trier

A evolução fez do homem o animal que não luta para sobreviver. Evita e teme a morte e assim vai vivendo. Seríamos então condenados a construir a eternidade com ação, criação, procriação e esperança e fé na ciência, na religião, na arte, na matéria ou na loucura.

“Melancolia” nos transforma em bichos-homens e cria um laboratório sobre o fim da condição humana. Põe os civilizados na jaula e observa as reações diante da iminente extinção. Os ratinhos de Lars Von Trier vão revelar o quanto somos frágeis, desorientados, egoístas e incapazes de aceitar o óbvio.

O realizador dinamarquês escolhe uma das fórmulas inventadas para distrair a morte (a união entre homem e mulher e a garantia do futuro da espécie) para conduzir a experiência. O casamento da deprimida Justine (Kirsten Dunst) e Michael (Alexander Skarsgård) serve de partida para o cataclismo.

A patética cena de abertura reflete o descompasso entre o natural e o ideal classe média que marca o longa-metragem: o casal e um chofer, atolados dentro de limousine branca, tentam vencer uma estrada que comportaria dois cavalos e uma carruagem. A vitória do artificial é apenas momentânea.

A cerimônia que espera por Justine e Michael é a decomposição acelerada do corpo. A equilibrada irmã da noiva, Claire (Charlotte Gainsbourg), e o marido rico e seguro John (Kiefer Sutherland) são usados por Von Trier para dissecar a crença de que a lógica e a ciência podem nos salvar.

Nesse universo, Claire será uma estrela em oposição a Justine. Esta se afunda no pântano ético, social e emocional do que sobrou de uma festa numa mansão distante da cidade organizada por aquela, a mãe de um belo menino, filho de um capitalista racional até o último gole de champanhe.

A escuridão do fim do túnel vai inverter o papel. A inerte e doente Justine ganha luz na “loucura” e na fantasia, enquanto Claire e John desmoronam. Respostas extremas a um problema da mesma magnitude.

O diretor cria uma tela com traços de filme científico, onírico e psicológico. Três estilos - que jutos podem resultar em uma estética grotesca e inverossímil – se fundem como se fossem da mesma substância. “Melancolia” surge aos nossos olhos como um ensaio bem acabado sobre o medo e a insanidade.

As cobaias contribuem com Von Trier. Charlote e Kirsten, engrenagens binárias da roteiro, trocam de papeis sem sobressaltos. O resto do elenco também segue a risca a marcação que ajuda a compor o pesadelo individual e planetário desenhado pelo cineasta.

Os efeitos especiais e a fotografia dão cores e créditos que a obra - de extremos - precisa para não se tornar um viagem inalcançável do criador e ser tocada pelo (e tocar o) público. Pintam um quadro entre o fantástico e o realismo.

Quase todos os ratinhos acompanham a triste batuta do diretor que conduz todos ao precipício. À frente Justine. Apoiada pela imensidão azul do planeta Melancolia, a jovem drogada por uma fantasia poética surge como a heroína deste bom filme.

“Melancolia” e Von Trier salvam apenas um: lúcido, um empregado vai se proteger no vilarejo próximo (para onde Claire tenta fugir sem sucesso), o paraíso citado e nunca visto onde talvez a vida ainda persista.