A originalidade do longa de
Asghar Farhadi está no lugar comum do cinema da terra dos aiatolás: a
simplicidade. O roteiro traz enredo de carne e osso, contemporâneo
e universal. A câmera mostra uma mulher da periferia grávida e casada com
um desempregado inadimplente trabalhando em um lar classe média que começa a se
desfazer após a esposa intelectual burguesa sair da casa onde vivem a
filha adolescente, o marido tenso e o sogro com mal de Alzheimer. Lendo
assim é desanimador.
Vendo... O domínio que
Farhadi tem do idioma cinema lhe permite conduzir e cruzar os dramas de cada
personagem e tecer um painel impar e de fácil identificação. As ações e a
lógica da elite e dos serviçais poderiam estar na carioca Laranjeiras, na
paulistana Vila Madalena ou no sul de Manhattan. E o acidente ou crime
que move “A Separação” – o aborto da empregada provocada por uma queda – é quase
um pão no nosso dia a dia. Vide o caso Thor: o jovem milionário estava em alta
velocidade ou a vítima imprudente cruzou a via?
As duas famílias
(iranianas) são tão reais e tão próximas de nós porque falam a língua da
contradição humana. Não há espaço para o bem versus o mal. Nem no ambiente
externo e nem na consciência. Os atores dessa sutil tragédia mostram que o bom
e o ruim são a cara da mesma moeda. As exceções são a filha da empregada, uma
criança, e o idoso infantilizado. Este é o anjo exterminador inocente que vai
empurrando os personagens lentamente para o xeque.