domingo, 6 de janeiro de 2013

Uma Negociação com Til Maiúsculo

O cinemão é um aumentativo. É para quem não é um bom entendedor e precisa de muito mais do que uma palavra completa. Duas não. Incontáveis palavras e imagens claras e frases e cenas objetivas. O clichê é apenas uma consequência que se tornou uma marca do estilo industrial de fazer cinema com “a, o,  til”. Raramente é evitado por completo.  Obra mediana, como “A Negociação” ("Arbitrage"), se serve dele acompanhado de dois e três toques de originalidade
 
Aqui é um par.  Duas boas ideias amenizam o “ão” do filme de Nicholas Jarecki: a dor (anti)ética e real do protagonista e a (quase) ética da minoria racial e social americana encarnada por um jovem do Harlem. São bases fracas que sustentam o roteiro. Sem elas, a história singraria pelo caminho do lugar comum.

“A negociação” traz aquele empresário sexagenário charmoso Robert Miller (Richard Gere) à beira do abismo e da falência que precisa vencer o tempo e fechar a venda salvadora de sua empresa financeira a um grupo capitalizado. Entre a cama da esposa contemporânea (Susan Sarandon) e a da jovem amante artista plástica (Laetitia Casta), vai desenhando o golpe perfeito. Um acidente de carro com morte muda a direção e dá a partida para um jogo de ratos e ratos.

O ritmo é o mesmo de outros filmes da categoria thriller-capitalismo-selvagem. E ágil para não cansar. O elenco principal completa a estética da direção veloz com atuações técnicas e satisfatórias. Há até uma pequena virada no final para autenticar o estilo fast-film.

As tais duas ideias são menos originais que eficientes para a narrativa. As dores internas provocadas pelo acidente vai marcar Miller e o desempenho de Gere durante 80% do tempo. O filme grita que o nosso anti-herói de cabelos brancos sente, em silêncio, a hemorragia moral.

Jimmy Grant (Nate Park) o rapaz negro leal é uma ponta de sofisticação e de ambiguidade de “A Negociação”. Aceita ser peça de manipulação em respeito aos valores americanos. Sejam eles quais forem: moeda, honra...

A moral Grant e as dores de Miller são o til maiúsculo desse cinemão americano esquecível.

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