terça-feira, 29 de março de 2011

Incêndios: Soma e Subtração de Emoções
















Um doutor de matemática explicaria “Incêndios”, longa canadense indicado ao Oscar 2011 na categoria de filme estrangeiro, assim: são duas retas paralelas em sentidos contrários que se chocam.

Uma mãe parte do passado e segue até um presente de onde a filha retorna ao encontro da origem da família. As duas trajetórias do roteiro usam a história da guerra política-religiosa de um país árabe (provavelmente o Líbano) para tentar dar lógica a uma sucessão de fatos e emoções tão surpreendentes quanto a fala de um dos personagens: 1+1 = 1.

A questão do problema é formulada no testamento que Nawal Marwan (Lubna Azabal) deixa para os filhos gêmeos: entregar uma carta ao pai e outra ao irmão, desconhecidos e desaparecidos. A sensível Jeanne Marwan (Melissa Désormeaux-Poulin) larga as aulas de... matemática e vai para o Oriente Médio tentar decifrar o mistério dos Marwan. Começa só. Depois, recebe a ajuda do pragmático irmão Simon (Maxim Gaudette) e do ex-patrão da mãe, o tabelião Jean Lebel (Rémy Girard).

Quando Jeanne entra em ação, o diretor Denis Villeneuve aperta o play da vida da jovem cristã Nawal. As cenas (políticas e pessoais) de mortes, perdas, resistência e dor nos anos 70 são montadas para fluir com as descobertas feitas pelo casal de irmãos no século XXI. As narrativas simples fazem de “Incêndios” um filme bom e didático que tem na raiz uma tragédia complexa e humana.

O bom trabalho de elenco, com destaque para Lubda Azabal, e a fotografia de poucas cores dão credibilidade ao tom realista impresso na tela. Villeneuve preferiu não arriscar. Fez um drama pessoal, baseado na peça do libanês radicado no Canadá Wadji Mouawad, com reviravoltas que emocionam menos pelo inusitado e mais pela verdade quase sempre presente.

“Incêndios” é uma obra calculada seguindo a lógica da surpresa. Agrada a quem não duvidar da tese de que 1 - 1 = 1.