Aqui é um
par. Duas boas ideias amenizam o “ão” do filme de Nicholas
Jarecki: a dor (anti)ética e real do protagonista e a (quase) ética da minoria
racial e social americana encarnada por um jovem do Harlem. São bases fracas
que sustentam o roteiro. Sem elas, a história singraria pelo caminho do lugar
comum.
“A
negociação” traz aquele empresário sexagenário charmoso Robert Miller (Richard
Gere) à beira do abismo e da falência que precisa vencer o tempo e fechar a
venda salvadora de sua empresa financeira a um grupo capitalizado. Entre a cama
da esposa contemporânea (Susan Sarandon) e a da jovem amante artista plástica
(Laetitia Casta), vai desenhando o golpe perfeito. Um acidente de carro com
morte muda a direção e dá a partida para um jogo de ratos e ratos.
O ritmo é
o mesmo de outros filmes da categoria thriller-capitalismo-selvagem. E ágil
para não cansar. O elenco principal completa a estética da direção veloz com
atuações técnicas e satisfatórias. Há até uma pequena virada no final para
autenticar o estilo fast-film.
As tais
duas ideias são menos originais que eficientes para a narrativa. As dores
internas provocadas pelo acidente vai marcar Miller e o desempenho de Gere
durante 80% do tempo. O filme grita que o nosso anti-herói de cabelos brancos
sente, em silêncio, a hemorragia moral.
Jimmy
Grant (Nate Park) o rapaz negro leal é uma ponta de sofisticação e de
ambiguidade de “A Negociação”. Aceita ser peça de manipulação em
respeito aos valores americanos. Sejam eles quais forem: moeda, honra...
A moral Grant e
as dores de Miller são o til maiúsculo desse cinemão americano esquecível.