sábado, 4 de junho de 2011

"Copia Fiel": A Marca Vermelha do Cinema Original

O cinema é das massas. A obra parida para a coletividade é mais arte quando do simples vai ao complexo sem aparentemente fazer um movimento sequer. "Copia Fiel" ("Copie Conforme") é simples: um diálogo entre uma fã e o objeto-escritor; dois monólogos de um casal em crise. É complexo: um diálogo entre um objeto-escritor e a esposa; dois monólogos de uma fã e do marido.

A primeira experiência ocidental do iraniano Abbas Kiarostami é um jogo. Um game que o filho da mulher-fã opera, no início do filme, com a mesma destreza do diretor ao longo de 106 minutos. A participação do adolescente não passa dos 10 ou 15 minutos iniciais. Serve como prólogo. Ele ou qualquer outro personagem infringiria a regra-par que segue o roteiro. São dois e quatro.

Às massas, o filme joga uma história de admiração de uma sofisticada francesa dona de antiquário (Juliette Binoche) por um escritor britânico (William Shimell). E continua oferecendo petiscos refinados e digeríveis durante o passeio da dupla por ruas da Toscana e galerias de um museu. É um vôo raso que prepara para o choque adiante.

É o impacto contra o espelho. O prato principal é servido em poucos minutos. Em uma cena (num café) faz-se o filme. A dupla é vista e se vê como um casal. Ou o casal deixa de ser visto e de se ver como uma dupla.

"Cópia Fiel" segue espelho adentro e vamos juntos rindo com os lábios meio trêmulos de quem desconfia do que vê. A dúvida instalada é sustentada pela interpretação da dupla Binoche-Shimell, pelos diálogos de Kiarostami e pela fotografia de Luca Bigazzi.

Binoche, premiada em Cannes-2010, e Shimell dão a certeza de quem são seus personagens: cópias e originais. Diretor e fotógrafo usam bem as tintas e as colas e montam um quadro naturalista.

Os exageros (da cópia ou do original) estão em poucos e exatos momentos na segunda parte do filme. O batom vermelho na boca de Binoche se repete pelas mãos de Kiarostami em doses equilibradas de nonsense, como os encontros do casal com outros de sua espécie, e pela de Bigazzi na cena-pintura do quarto de hotel.

"Copia Fiel" é Cinema (de sétima) Arte. A massa se deleita com teses do que é real (o escritor e dona de antiquário) e do que é falso (o marido inglês e a mulher francesa). Do que é verdade (o casal em crise) ou do que é representação (o autor e a fã). Quem gosta de cinema, também!

Nenhum comentário:

Postar um comentário