terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Dois Estranhos Fora da Bolha de Plástico

A cegueira, a fantasia, o medo e o desespero de quem é forçado a deixar a bolha que habita estão em dois filmes em cartaz no Rio: "Blue Jasmine" e "Um Estranho no Lago".

A obra de Woody Allen compacta esses sintomas na elegante decadência de uma novíssima e filantrópica alta burguesa em Nova York. O longa de Alain Guiraudie centra a lente em um jovem cujo destino é o desejo sem censura ética.

O diretor americano se cerca da moral da periferia para pinçar do aquário a personagem interpretada por Cate Blanchett e deixá-la sem oxigênio e sem champanhe. O francês aluga a amoral do sexo explícito para afogar o jovem apaixonado vivido com naturalidade por Pierre Deladonchamps.

A diferença fundamental entre os dois é a direção sinalizada pelo roteiro: “Blue” arrasta o peixinho para fora do lago dos milionários e “O Estranho” traz o real e a razão para dentro do paraíso sem pecado.


O traço de união das duas obras é o choque que provocam não nos personagens reféns de um mundinho particular. Os dois filmes atingem sim a plateia incapaz de salvá-los de fins particularmente redentores.

Allen desidratar a estrela homeopaticamente com humor seco e poças rasas de esperança. Guiraudie injeta prazer pelos poros até cegar a vítima.

Sobra muito pouco de sanidade para os seres das bolhas de plásticos. Nós, que gostamos de bom cinema, ficamos agradecidos pela originalidade de duas histórias tão descombinadas e próximas na qualidade de revelar traços da sociedade contemporânea e artificial de nossos tempos virtuais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário