O que seria de Woody Allen sem o humor. Um ótimo cineasta cortante e difícil. O sorriso sopra sobre as suas histórias e cria uma leveza que desvia o olhar. O público pode embarcar e se divertir. Pode também rir e se assustar com os pequenos (e, as vezes, profundos) cortes.
Tudo Pode dar Certo é também um longo sopro. É fácil de acompanhar como um bom papo num café de NY, durante a primavera. Um encontro filosófico na calçada entre velhos amigos para qual você é convidado a participar. Quem puxa a conversa é o físico Boris (Larry David), suicida em potencial que abandona a mulher por causa da perfeição da companheira.
Regido pela lei do clichê, o roteiro de Allen leva o narrador (solitário) a ser atraído por uma partícula loura e burra inversamente proporcional à genialidade e ao pessimismo do quase prêmio Nobel, dezenas de anos mais velho que a jovem caipira em questão chamada Melodie (Evan Rachel Wood). O clichê é tão consciente que é tema de debate entre os dois extremos de Q.I.
Os diálogos da dupla, do físico com o público, da mãe da jovem e dos amigos são espertos e engraçadinhos. Frases e situações tiradas da velha gaveta de Allen. Tudo redondinho e com ritmo até um final perfeito como um baile de pessoas felizes.
E onde estariam os tais cortes? A navalha mais afiada está na bolsa cor-de-rosa da mãe de Melodie, Marietta (Patricia Davies Clarkson). O ódio em forma de preconceito e inveja é um personagem que muda na forma (pesada e cafona para “in” e revolucionária) e só piora no conteúdo. É o demônio que se transforma em deus (ou o contrário) e continua praticando o mal.
Tudo Pode dar Certo não fere (quem não quer se ferir) e ainda faz rir.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
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